A sociedade brasileira apresenta, ainda, tabus enraizados e não discutidos onde mais deveriam sê-los: escolas, igrejas e seio familiar. Dentre eles, está a prevenção do suicídio e o papel da sociedade. Visando mudar nossa realidade, vamos hoje dissertar algo que está presente na vida de todos: O Setembro Amarelo e o papel dos católicos nessa problemática que nos é tão recorrente.

De acordo com o https://www.setembroamarelo.org.br/o-movimento, o Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio. No Brasil, foi criado em 2015 pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), CFM (Conselho Federal de Medicina) e ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), com a proposta de associar a cor ao mês que marca o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio (10 de setembro).

O jornal “Diário de Pernambuco”² cita dados alarmantes da Organização Mundial de Saúde (OMS), onde uma pessoa comete suicídio a cada 40 segundos no mundo. No Brasil, já é considerado caso de saúde pública e deve ser, nos próximos anos, a maior causa de afastamento do trabalhador brasileiro. A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS)³ diz que para cada suicídio, há muito mais pessoas que tentam. Os mais afetados são os jovens, principalmente entre 15-29 anos.

Os dados da OPAS continuam: 79% dos suicídios ocorreram em países de baixa e média renda; as taxas são ainda maiores em grupos vulneráveis que sofrem discriminação, como refugiados, LGBTQI, privados de liberdade, portadores de doenças crônicas, etc.

Para tentar prevenir tal problema, recomenda-se, dentre outros: (I) políticas públicas para reduzir o consumo de drogas; (II) identificação precoce para tratamento e cuidado de pessoas com tendências ao suicídio; (III) acompanhamento de pessoas que tentaram suicídio; (IV) cobertura responsável pelos meios de comunicação; e, (V) sensibilização da comunidade e quebra de tabu para lidar com o tema.

A Igreja, como formadora de opinião, representa papel fundamental na prevenção ao suicídio. Os cristãos não podem permitir que alguém ande só com a sua dor. O cristianismo vive, desde o seu primórdio, de coletivo e partilha. O pão fora partilhado, deste modo, a alegria e dor também são. A comunidade cristã deve apoiar e seus membros sentirem-se apoiados pelos outros. Ademais, a Igreja deve abertamente falar sobre o tema. Seus fiéis devem estar alerta e não tratar o assunto como eterno tabu.

Assim, visando o melhor debate na comunidade jovem da Igreja, participaram, nos dias 6 e 7 de setembro de 2019, no Santuário Dom Bosco (Brasília/DF), aproximadamente 200 pessoas da 15º edição do Encontro Nacional de Responsáveis Diocesanos de Juventude (ENRDJ), a fim de refletir importantes assuntos ligados à juventude. Entre eles, aprofundar o assunto que vem chamando a atenção de estudiosos e dos que acompanham de perto a realidade juvenil, quer seja no ambiente urbano, quer seja no ambiente rural: a realidade do suicídio e automutilação (Cuani, 2019)4.

Colaborando com o 15º ENRDJ, a Psicóloga Prof.ª Dr.ª Ticiana Paiva desenvolveu um material5 onde esclarece os mitos do suicídio que ainda somos acostumados a lidar. Exemplos:

  • “Quem quer se matar não avisa, faz”. Mito. Pensar em suicídio é comum, e as pessoas geralmente dão sinais antes, como: (I) mudança repentina; (II) frases de alerta; (III) isolamento; (IV) tristeza intensa;
  • “Falar sobre suicídio pode incentivar mais suicídios”. Mito. É papel da sociedade, principalmente do cristão, falar de forma responsável sobre o suicídio. O acolhimento é parte fundamental para que a pessoa não tire aquilo o que tem de mais precioso: sua vida;
  • “Quem pensa em suicídio já desistiu de viver”. Mito. Como discutido acima, o pensamento geralmente vem antes do ato. Devemos estar alertas para perceber quando o pensamento não for externado.

Destarte, a Igreja deve estar atenta e reforçando entre seus fiéis a importância de se conversar e acolher os que pensam em suicídio. Os cristãos devem ser disseminadores e, tal qual uma “formiguinha” levar conhecimento às mais longínquas comunidades. Devemos, por fim, nos lembrar das palavras de jesus: “EU VIM PARA QUE TODOS TENHAM VIDA, E A TENHAM COM ABUNDÂNCIA” (João 10,10). O Bom Pastor deu a vida pelas suas ovelhas, a vida é o nosso caminho, é a nossa busca. A vida é o mais importante bem tutelado pelo Estado, foi o preço impagável derramado na cruz. Foi por ela que Jesus veio, é por ela que devemos lutar. De todas as formas, raça, sexo, religião, etc. Todas têm valor, cada vida importa. Em setembro, os cristãos usam amarelo. Pela vida, por toda a forma de vida humana.

 

REFERÊNCIAS:

¹https://www.setembroamarelo.org.br/o-movimento/. Acessado em 16 de novembro de 2019;

²BRITO J. Setembro Amarelo: campanha alerta sobre prevenção do suicídio. Diário de Pernambuco. Publicado em 14/09/2019. Acessado em 16 de setembro de 2019.

³SAÚDE, ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA. Folha informativa – Suicídio. Agosto de 2018. Acessado em 16 de setembro de 2019.

4CUANI J. Aconteceu em Brasília o XV Encontro Nacional de Responsáveis Diocesanos de Juventude. Jovens Conectados: Comissão para a Juventude CNBB. Publicado em 9 de setembro de 2019. Acessado em 16 de setembro de 2109.

5PAIVA T. Suicídio: Desafios e possibilidades do cuidado ao jovem. 15º Encontro Nacional de Responsáveis Diocesanos da Juventude. Brasília-DF. 6 a 7 de setembro de 2019. Disponível em: http://jovensconectados.org.br/wp-content/uploads/2019/09/Material-Preven%C3%A7%C3%A3o-ao-suic%C3%Addio_RDJ2019.pdf. Acessado em 16 de setembro de 2019.

 

Texto: Raul Messias Lessa
Arquidiocese de Maceió/AL
Paróquia de Santa Catarina Labouré.