Encerrando o mês dedicado à Nossa Senhora, falemos um pouco da jovem que foi bendita entre as mulheres: Maria de Nazaré, mãe terrena de Jesus Cristo. Filha de Ana e Joaquim, Maria recebeu a visita do anjo Gabriel, que proclamou: “bendita és tu entre as mulheres” (Lc 1, 28). A frase proclamada pelo anjo foi eternizada na Igreja Católica. Ainda hoje, em nossos momentos de agradecimento ou dor, é no Terço Mariano que nos apegamos e continuamos a proclamar como o anjo disse há mais de dois milênios: “bendita sois vós entre as mulheres”.

A fé de Maria foi inquestionável durante todos os anos de doutrina cristã. Ao receber a visita do anjo, seu lado humano não ousou duvidar da missão que a ela era incumbida e, seu coração sensível logo se dobrou à vontade de Deus selando um laço de reconciliação. Por este, os pecados do homem foram perdoados. Por meio dela, a Salvação se fez carne em nosso mundo. É a mística da liturgia dando à mulher seu lugar de destaque: se por uma mulher o pecado veio ao mundo, também por ela veio a salvação. Se hoje temos um Deus que morreu e ressuscitou por nós, foi porque Maria teve a coragem de dizer: “Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38).

O Evangelho nos mostra que Jesus passou por inúmeros desafios em sua vida. Como católicos, temos a certeza de que estes desafios foram cumpridos por ter uma mãe aqui que o ensinou valores imensuráveis. A educação e doçura de Jesus não foram milagres, mas sim convivência com a própria doçura em pessoa. Quando Jesus, filho de Deus, conseguiu vencer o Calvário, foi porque nos pequenos calvários de sua vida, sua mãe esteve presente: segurando a sua mão nos primeiros passos, ensinando a atravessar os caminhos árduos, e, estendendo a mão quando necessário.

Das leituras que nos mostram de Maria, destacamos aqui o episódio onde Jesus, com apenas doze anos, é encontrado ensinando no templo (Lc 2, 41-52). Analisando a leitura sob a óptica de uma mãe, o coração naturalmente fica partido, pois, Maria e José que saíram em caravanas distintas, ao perceberem que Jesus já não estava mais entre eles, logo voltaram para Jerusalém – provavelmente desesperados – atrás de seu filho. Imaginem a angústia de Maria que foi tão bem retratada pelo Evangelista Lucas: “Filho, por que fizeste isto conosco?”. Jesus, que estava ensinando no templo, responde como Filho de Deus, afirmando que era ali onde Ele deveria estar. Todavia, Maria nada falou. Seu silêncio e seu olhar mostraram a Jesus que, aqui na Terra ele também era filho de uma mãe. Entendendo isto, Cristo seguiu com ela e José, crescendo em estatura e graça.

Outro Evangelista traz um episódio ímpar na vida do cristão: Bodas de Caná (João 2, 1-11). Esta passagem, marcada como primeiro milagre de Jesus, é também prova da função de intercessora de sua mãe. Ao perceber que os convidados não tinham mais vinho, ela avisa a Jesus: “Eles não têm mais vinho”. Aparentemente, Ele não entendeu aquilo o que sua mãe disse e retrucou, dizendo que ainda não era chegada a sua hora. Porém, sem que Maria precisasse dizer, Jesus entendeu o olhar de Maria e percebeu que já era hora de operar um milagre naquela festa, para que os noivos não ficassem sem o vinho. Destarte, leitores seguimistas, como está o seu vinho hoje?

As atitudes de Maria convergem nos ensinamentos e vida de Cristo. Os maiores milagres de dEle não foram os que fizeram os cegos enxergar, ou os paralíticos andarem. Seus maiores milagres foram ver além do normal. O olhar de Jesus enxergava o coração do próximo. Seu olhar que não julgava, mas sim libertava. Um olhar sincero dEle era melhor do que toda uma pregação sem empatia com o próximo. Ao levarem a mulher que seria apedrejada (João 8, 3-11), Cristo não gritou, nem falou. Ele olhou no fundo dos olhos da mulher citada como pecadora, e, enxergou o que ninguém mais enxergou: o amor de Deus que habitava nela.

Desta forma, sendo acompanhado por sua mãe, desde as primeiras palavras (imaginem como seria ouvir as primeiras palavras do Cristo, ver os seus primeiros passos…) até a sua morte, Maria esteve junto de Jesus por todo o tempo. Cada gesto salvador dEle, era motivo de orgulho dela. Mesmo sabendo que seu Filho deveria vir para o sofrimento terreno, ela aceitou a missão por ser serva de Deus. Ela intercedeu por aqueles que precisavam, e, ensinou, através de atitudes concretas, o que é o amor ágape.

Hoje, encerramos o mês mariano, porém, devemos permanecer vigilantes na oração. O terço na mão é sinal do católico que tem uma mãe no céu e sabe que nela pode se confortar. Maria intercede por nós ininterruptamente. Ela quer saber qual vinho está faltando em nossa vida, para que possa chegar em seu filho e dizer: “Meu filho, ele já não tem mais vinho”. Aproxime-se dela. Volte para o colo do amor de mãe, que acolhe e mima. Diga a ela qual o vinho que falta em sua vida, e deixe que ela também o ensine a olhar para o próximo com mais amor. Através de Maria, poderemos sim cumprir o novo mandamento de Cristo: “Amai-vos uns aos outros, assim como eu mesmo vos amei”.

 

Deus o abençoe e que Maria continue intercedendo por sua vida e de sua família.

 

 

Maceió, 26 de maio de 2019.

 

Raul Messias Lessa
Paróquia de Santa Catarina Labouré

Maceió/AL.