Por Andra Martins Ribeiro
Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Diocese de Porto Nacional – TO
Ainda é bem cedo, mas Gabrielle já acordou para ir à faculdade. Está com os trabalhos atrasados desde a semana passada. Ela sabe que terá que correr contra o tempo para terminá-los, pois sábado tem Nightfever e domingo tem corrida em Anápolis. André é engenheiro. Não consegue nem calcular quantos tijolos usa para construir sua esperança em Barra do Garças. Mas sente um orgulho danado de participar desse constante paradoxo: O (re)fazer da vida. Ontem, enquanto o padre celebrava a missa, ele ficou contando, em vão, os tijolinhos da parede da igreja. Descobriu que a vida é mesmo uma incansável contagem de tijolinhos. É um eterno não saber.
O medo tomou conta da pracinha. As crianças se
esconderam detrás do sol. Há chamas espalhadas perto do palácio do rei. Dizem
que há polícia com a cara fechada e os lábios amargos em frente ao monumento
tombado pelos deuses da história. Há também um jovem no chão, com o rosto
ensanguentado e uma bandeira na mão. Amarelo, azul, verde, branco são as cores
pisoteadas por aquela imensidão de gente desacreditada. E são também as cores
que Edson escolheu para representar o Segue-me de Sobradinho.
Terno. Gravata. Sapato apertado. Café preto.
Trânsito. Máquinas! Wellington pensa nessa progressão aritmética enquanto recebe
em sua mesa mais um processo. A caminho de mais uma audiência, num fórum
distante do centro de Campo Grande, lembra-se do seu tempo de Conselho, das
viagens, dos sonhos comuns e dos tesouros amigos que cativou ao longo de
inúmeras paragens…
As águas do mar estão em lua de mel com a
Cidade do sol. Os pássaros, convidados ilustres, misturam-se com os turistas
embasbacados com a beleza da paisagem. Bem perto dali, Danilo também está
pronto para mais uma viagem: Vai representar o seu movimento em mais uma missão
evangelizadora. Danilo é pássaro que voa em bando, é vento brincando de
documento, driblando a solidão…
Maria ensaia um canto em Goiânia. Matheus
realiza mais um sonho em Três Rios. Pedro entrega flores em Mossoró. Joana e
sua irmã mais velha tomam banho de rio em Roraima. Marcela está à beira da
praia em Palmas, lendo o seu livro predileto. Lá em Cuiabá , Juliana amarra os
seus cabelos, suspira e agradece a Deus por ter escrito mais um capítulo do seu
artigo interminável.
“Não, ninguém faz samba só porque prefere/Força
nenhuma no mundo interfere/Sobre o poder da criação…”. Estes são os versos
que Raul cantarola ao amanhecer do dia em Maceió. Porque na receita de vida
desse rapaz, domingo pode ser dia de roda de samba também. À noite, ele se
arruma, e como numa rima bonita dos poetas, vai à missa com o seu Bem.
Jéssica levantou-se bem cedinho, lembrou-se
que não havia pagado o boleto. Agora está contando uma piada boba em
Diamantino. O primeiro filho do Juliano nasceu em Novo Acordo. Rodrigo terminou
de fazer um encontro da igreja em Janaúba: Está com aquela sensação gigantesca
de que pode mudar o mundo. Cátia cismou que vai aprender a fazer aquele bolo de
milho que sua vó faz em Camaçari. Às margens do Rio São Francisco, enquanto os
turistas observam a imensidão do doce mar, Carolina pensa nas decisões da
reunião de ontem: _ Será se vai dar tempo de confeccionar aquele tanto de
material da gráfica?
Jorge desembrulha um presente em Crato: Passou
no vestibular. Patrícia já está de viagem marcada. Ela não queria, mas depois
do concurso terá que sair de Luziânia. Assim também está Guilherme em Jardim.
Crislene em Sinop. Carlos em Assú. Jonas em Macaíba. Gisella, porém, não
pretende sair do seu lugar. Permanecerá em Uberaba. Seu casamento será sábado.
Casará com Júlio, seu colega de círculo, bem aquele que ela achou insuportável
na primeira reunião.
E há uma mulher escrevendo um texto em Porto
Nacional. Pode ser que seja eu. Pode ser que seja Maria dentre tantas Marias. O
que há em comum nisso tudo? Todos são seguidores! Os personagens dessa
narrativa e eu sabemos que é preciso saber seguir, mesmo que faltem pernas,
braços, voz, jeito, gesto. O coração é quem ensina, o amor é quem ajuda a
caminhar…
Seguindo, descobrimos que qualquer um pode
superar qualquer coisa: Não há sofrimento que dure a vida inteira, nem sorrisos
também. Amor dura. Faz inteira a vida inteira… O que precisamos é de alguém
que nos ajude, que nos dê um abraço gigante, mesmo sendo por telefone, por
telepatia, por simpatia, por amor. O abraço é a resposta de quase tudo, dentro
dele as palavras perdem o espaço. Tudo começa e termina dentro dele. Assim, a
vida torna-se mais leve, nem precisamos de explicações, o gesto é sempre mais
bonito que a pressa…
Ser gente, talvez seja também isso: Doar-se ao
outro. Limpar os quintais da alma, ser evangelho vivo, sentir as dores do outro
e do mundo. É preciso seguir, ter fé, amar todo dia, sentir saudades do ontem
que foi bonito, colorir-se do hoje, se enfeitar de Deus, sem muito alarde,
precipitações e medos bobos.
Somos
borboletas na imensidão do céu azul, que de tanto voar, às vezes até nos
confundimos com as nuvens, outras somos flores, noutras chão. Assim como o
Danilo da Cidade do sol, que, agora, já
voou para mais uma missão, demos um SIM
e não podemos cansar de dizer: “Eis-me aqui, Senhor, a sua disposição…” Colocar-se à disposição de Deus é um dos voos mais
bonitos que alguém pode fazer. Mas é preciso saber compreender as vontades do
pai e escutar o que Ele nos diz. Sempre. “O que queres de mim?”
Assim como as borboletas, assim
como Juliana, assim como Raul, assim como Maria e assim como tanta gente que
ousa ter coragem na vida, não podemos entristecer por qualquer coisa e deixar
de colorir o céu. Seguir é ter coragem para amar, é ter coragem de doar-se mais
que o outro, de ceder, de esquecer o que não se esquece. Ser seguidor é saber
que em qualquer lugar dessa terra de gigantes há alguém sendo gente, sendo
personagem de uma história de verdade. Não
há o que temer: Deus é quem a escreve.