“Como um pai tem compaixão de seus filhos, assim o Senhor tem compaixão dos que o temem; pois ele sabe do que somos formados; lembra-se de que somos pó” (Sl 103, 13-14)

A pandemia deu uma freada brusca em nossas rotinas tão corridas, lotadas de compromissos, cheia de cobranças, pressões e individualismos. Com essa pausa forçada, fomos obrigados a parar de olhar apenas nosso reflexo no espelho do mundo egoísta e enxergar quem está ao lado. Pessoas que também vivem, trabalham, sofrem e que merecem empatia e compaixão.

Diante desse cenário, o Papa Francisco escolheu a ‘Compaixão pelo mundo’ como tema de sua intenção de oração para o mês de junho. No vídeo divulgado no canal oficial da Rede Mundial de Oração do Papa, o Santo Padre destaca que podemos ajudar as pessoas que sofrem padecendo por graves dificuldades “acompanhando-as por um caminho cheio de compaixão”.

O desafio começa por nós. Muitas vezes, pela rotina, somos acostumados a agir como um sommelier que com uma simples degustação avalia o que merece ou não atenção. É necessário experimentar a realidade do outro de verdade, entrar de cabeça. Muito mais do que sentir pena, é entender o sofrimento de quem está ao redor e colocar-se no mesmo lugar. Apoiar causas e pessoas com o todo nosso coração. Sermos sólidos na compaixão, oração e empatia, pois o líquido evapora.

A autocompaixão também é fundamental. Devemos sim nos cobrar, buscar nossos objetivos e melhorar a cada erro. No entanto, da mesma forma que um mundo envolto de pressão afeta a capacidade de olhar o outro, não conseguimos olhar para dentro. De tanto a autocrítica ser maior do que o amor próprio, do valor que temos e não sabemos, da importância de nossa existência, temos a infeliz realidade de jovens com saúde mental abalada recorrendo aos piores meios de fuga.

Mudanças extraordinárias, descobertas e evolução de sentimentos podem partir da simples, porém importante, tentativa de compreensão e vivência do real sentido da compaixão. É experimentar a verdadeira humildade, reconhecendo virtudes, defeitos e limitações existem em qualquer ser humano, independentemente de origem e escolhas.

A compaixão é essencial em todos os níveis. E se for humanamente impossível mudar o comportamento e visão ao sofrimento do outro que está ao redor, é sempre divinamente disponível um pedido de ajuda e força para iniciar mais uma caminhada.

Coração de Jesus

O Papa Francisco também cita em sua intenção o Coração de Jesus. “Compaixão que transforma a vida das pessoas e as aproxima do Coração de Cristo, que nos acolhe a todos na revolução da ternura. Rezemos para que aqueles que sofrem encontrem caminhos de vida, deixando-se tocar pelo Coração de Jesus”.

A publicação oficial do Vaticano explica que a devoção ao Coração de Jesus é uma longa tradição da Igreja Católica. Com mudanças ao longo da história, a essência se manteve: sempre para que o Pai nos revelasse em toda a sua profundidade o mistério de seu amor através de um símbolo privilegiado: o coração vivo de seu Filho ressuscitado. Pois “o coração de Cristo é o centro da misericórdia”, diz Francisco.

O diretor internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, padre Frédéric Fornos SJ destaca que a devoção ao Coração de Jesus estabelece uma missão de compaixão pelo mundo e é o fundamento de toda missão: “Quanto mais perto estivermos do Coração de Jesus, menos indiferentes seremos ao que nos cerca, desejando nos comprometer com Jesus Cristo neste mundo, a serviço de sua missão de compaixão”.

Que a exemplo de Cristo tenhamos um coração cada vez mais misericordioso e sensível aos irmãos que nos rodeiam. Sejamos verdadeiramente sólidos na virtude da compaixão, pois uma preocupação líquida rapidamente se evapora.

Michael Franco

Arquidiocese de Campo Grande – MS