Nesta quinta-feira, 03 de junho de 2021, celebraremos a Solenidade do Corpo de Cristo, em latim, Corpus Christi. Uma solenidade que nos remete ao século XIII, instituída pelo Papa Urbano IV, através da bula transiturus de 1264. O nome é sugestivo, pois o verdadeiro motivo desta celebração litúrgica é relembrar aquele que é considerado o principal sacramento da Igreja Católica: a Santíssima Eucaristia. 

Traçando uma breve timeline, a Igreja celebra o Pentecostes no 50º dia após a Páscoa. No domingo seguinte, ocorre a Solenidade da Santíssima Trindade, onde vivemos o mistério de um Deus Uno e Trino. Afinal, como dissera Santo Agostinho: “é mais fácil colocar toda a água do oceano neste pequeno buraco de areia do que a inteligência humana compreender os mistérios da Santíssima Trindade”, ao explicar Deus Pai, Deus Filho e o Deus Espírito Santo. 

Seguindo essa linha do tempo litúrgica, na quinta-feira após a Solenidade da Santíssima Trindade, estamos prontos para a celebração do Corpo de Cristo. Dados históricos¹ remontam a celebração ao século XIII quando o Papa Urbano IV criou esta data, após ter recebido notícias de que a freira belga Juliana de Mont Cornillon teve visões de Cristo demonstrando o Seu desejo de que a Santa Eucaristia fosse celebrada com destaque. Então, esta Solenidade entra no calendário litúrgico para evidenciar e enfatizar a presença real do Senhor Jesus no pão e no cálice consagrados.

Nos ensinamentos do Cardeal Orani João Tempesta², a festa do Corpo de Cristo ocorre na quinta-feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade, em uma referência à Última Ceia, onde Cristo se fizera carne e sangue, denominada de Quinta da Paixão. Assim, temos aberto um convite para meditação sobre o valor e a importância da Eucaristia em nossa vida. Foi o próprio Cristo quem pediu que a Igreja celebrasse a Eucaristia: 

“Este é o meu Corpo (…). Isto é o meu Sangue (…). Fazei isto em memória de mim” (Mt 26, 26). 

A Igreja Católica cumpre este mandamento até hoje para perpetuar a presença salvadora de Jesus na História. 

O Código de Direito Canônico da Igreja Católica, em seu cânone 944³, determina que o Bispo diocesano, deverá fazer, onde for possível, uma procissão pelas vias públicas a fim de que os fiéis possam venerar publicamente a Santíssima Eucaristia. 

Destarte, em cidades brasileiras e portuguesas, sobretudo nas históricas, é comum ornamentar as ruas por onde passam as procissões com tapetes coloridos e com desenhos religiosos. Estes, confeccionados a partir de produtos como serragem, borra de café, areia, etc., representam a criatividade e a fé de um povo que encontra na arte a demonstração de amor por um Deus, que nos amou até o fim. 

Deste modo, temos na celebração da Santíssima Eucaristia o próprio Senhor Jesus Cristo. O Sacrifício Eucarístico perpetua através dos séculos o Sacrifício da Cruz. Segundo Santo Tomás de Aquino: 

Nenhum outro sacramento é mais salutar do que a Eucaristia. Pois, nele os pecados são destruídos, crescem as virtudes e a alma é plenamente saciada de todos os dons espirituais. A Eucaristia é o memorial perene da paixão de Cristo, o cumprimento perfeito das figuras da antiga aliança e o maior de todos os milagres que Cristo realizou”, uma vez que é a Eucaristia o maior milagre de Cristo em nosso mundo. 

  “Pois minha carne é verdadeira comida e meu sangue é verdadeira bebida. Quem se alimenta com a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu nele. Como Pai, que vive, me enviou, e eu vivo por meio do Pai, assim aquele que de mim se alimenta viverá por meio de mim. Este é o pão que desceu do céu. Não é como aquele que vossos pais comeram – e no entanto morreram. Quem se alimenta com este pão viverá para sempre.” (Jo 6, 55-58)

Portanto, é através da Eucaristia, que Jesus nos mostra que está presente ao nosso lado, e se faz alimento para nos dar força para continuar. Jesus nos comunica seu amor e se entrega por nós. Infelizmente, a pandemia não permite que possamos sair em procissão, lembrando a caminhada do povo de Deus, peregrino em busca da Terra Prometida, que, enquanto no Antigo Testamento era alimentado pelo maná vindo do céu, atualmente, é alimentado pelo próprio Corpo de Cristo. 

Não obstante, que possamos aproveitar o isolamento para refletir. Que nossas atitudes convirjam para a unidade em Cristo. Que possamos comungar do Seu Corpo, se não presencialmente, que façamos nossa comunhão espiritual. Estamos em tempo de celebrar a vida, mesmo em meio a tantas mortes. É a vida de Cristo e em Cristo, é o Corpo de Cristo! 
Raul Messias Lessa
Arquidiocese de Maceió/AL
Paróquia de Santa Catarina Labouré

 

Referências

¹ SILVA, Daniel Neves. “Corpus Christi”; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/datas-comemorativas/corpus-christi.htm. Acesso em 31 de maio de 2021.

² TEMPESTA, Cardeal Orani João. Corpus Chirsti. CNBB. Disponível em: https://www.cnbb.org.br/corpus-christi-6/. Acessado em 31 de maio de 2021.

³ Código Canônico. Cân. 944 — § l. Onde, a juízo do Bispo diocesano, for possível, para testemunhar publicamente a veneração para com a Santíssima Eucaristia faça-se uma procissão pelas vias públicas, sobretudo na Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo. § 2. Compete ao Bispo diocesano estabelecer normas sobre as procissões, com que se providencie à participação e dignidade delas.