“Maldito o homem que confia no homem

Bendito o homem que confia no Senhor”

 

A cada ano que se chega o seu fim é sempre um momento de muita reflexão, sem dúvidas é um momento muito simbólico, especialmente para nós católicos, e vendo uma nova fase que se inicia é natural criar expectativas e metas para o novo ano que se aproxima.

Lembro que próximo do final de 2021 tive um momento de muita autorreflexão, comecei a perceber que em minha vida haviam várias coisas acontecendo que não me agradavam e estava disposto a mudá-las. Foi então que decidi fazer uma das tão populares “lista de metas”, corri e peguei um papel e logo comecei a anotar, escrevi as coisas que iria fazer em 2022, fui escrevendo quase que um cronograma a ser seguido.

Fiquei muito contente comigo mesmo naquele momento e muito orgulhoso da minha lista, passei o réveillon quase que em êxtase de tão esperançoso naquele ano maravilhoso que se viria. Poucos meses se passaram e descobri o mesmo que Joseph Climber [1] havia descoberto alguns anos antes, que “a vida é uma caixinha de surpresas”.

Primeiramente preciso contextualizar o que estava acontecendo, já fazia algum tempo que vivia em um impasse vocacional, por um lado me sentia levado a vocação leiga, pensava dever buscar por um matrimônio e constituir uma família, por outro lado, me sentia atraído a vida religiosa, largar tudo e virar um frade, estava nesse impasse já há algum tempo.

Comecei a ser acompanhado em um processo de discernimento vocacional por uma ordem religiosa, muitas conversas, orações e leituras durante um bom tempo, mas a incerteza continuava, o passo seguinte seria ingressar em um convento e seguir o discernimento lá dentro, mas para fazer isso dependia da aprovação da ordem e logo fiz a solicitação.

O tempo foi passando e não recebi nenhum retorno, sem aprovação, sem rejeição, e aquela incerteza me deixava muito aflito, comecei a pensar que a ausência de resposta seria a única reposta que teria, e se a vida religiosa não era uma opção, o que me restava era a vida como leigo. E neste espírito, de que a vida leiga era a única opção, foi onde pouco tempo depois escrevi minha lista de metas para o ano de 2022.

Mas logo nos primeiros meses do ano fui surpreendido, recebi a notificação de que meu pedido de ingresso no convento havia sido aceito, quando o Padre responsável me questionou se eu ainda estava disposto a ingressar no convento, sem hesitar, apenas perguntei a data em que podia me apresentar.

Pouco tempo depois pedi demissão do emprego que tinha, me despedi da família e amigos e entrei em um avião para praticamente ir ao outro lado do país seguir meu processo de discernimento vocacional, e enquanto estive lá nem sequer lembrei da lista cheia de metas distantes e incompatíveis com aquele estilo de vida tão diferente do que imaginei que teria este ano.

Os meses foram passando e, por razões que não cabem nesse texto, em consenso com meus formadores, pedi dispensa e sai do convento, voltei para casa e fui ao poucos me readaptando àquele novo-velho lugar, e embora estivesse quase tudo igual, me sentia muito diferente.

E com tudo isso acontecendo, tantas mudanças em um espaço tão curto, aquela lista de metas que tinha me deixado tão orgulhoso por um momento ficou esquecida enfiada em uma gaveta qualquer. Somente lembrei da existência da lista quando me fui designado a redação deste texto, onde logo que vi o tema automaticamente me veio à memória.

Iniciei uma busca frenética por encontrá-la, foi um pouco trabalhoso, mas consegui localizá-la e imediatamente comecei a ler, comecei a fazer um checklist de quais metas foram alcançadas, contei e no total haviam 18 objetivos, e após breve leitura percebi ter cumprido apenas duas daquelas metas, e em algumas das metas até regredi, e agora estou muito mais distante de alcançá-las do que um ano atrás.

Embora diante daquele evidente fracasso não me senti derrotado, na verdade, senti o exato oposto, me senti imensamente vitorioso, muitas daquelas metas que eram tão caras agora me parecem apenas vaidade e sem valor, em contrapartida, conquistei e fiz coisas muito mais importantes e valorosas, coisas que um ano atrás quando escrevi a lista sequer podia imaginar.

Toda a vivência e experiência que tive durante este ano me mudaram de modo que hoje me senti muito mais seguro, só que agora não sou seguro de mim mesmo e sim seguro de que acima de mim está Deus com planos para a minha vida melhores do que qualquer coisa que já tenha sonhado um dia, e é com esta segurança que me preparo para mais um ano.

Normalmente sou uma pessoa muito reservada e não costumo falar abertamente sobre minha vida e minhas experiências, mas abri uma exceção e expus aqui neste texto um pouco da minha história, da minha vivência ao entendimento de uma das minhas passagens Bíblicas favoritas que a deixo citada abaixo:

 

“Assim disse Iahweh: Maldito o homem que confia no Homem, que faz da carne sua força, mas afasta seu coração de Iahweh! Ele é como o cardo na estepe: não vê quando vêm a felicidade, habita os lugares secos no deserto, terra salgada, onde ninguém mora. Bendito o homem que se fia em Iahweh, cuja confiança é Iahweh. Ele é como uma árvore plantada junto da água, que lança suas raízes para a corrente: não teme quando chega o calor, sua folhagem permanece verde; em ano de seca não se preocupa e não para de produzir frutos’’ [2]

 

Por fim, apenas deixo aqui meus votos de estima: Feliz Natal e um Ano Novo repleto de confiança no Senhor a todos!

 

Wallyson F. Lira

Paróquia Nossa Senhora das Dores

Diocese de Crato – CE

 

Notas

[1] Joseph Climber é o nome do protagonista de uma apresentação humorística- motivacional de mesmo nome do grupo Os melhores do Mundo.

[2] Jeremias 17, 5-8. Texto conforme a 14 edição da Bíblia de Jerusalém.