“Nesta esperança suplicamos incessantemente por vós, para que nosso Deus vos faça dignos da vossa vocação e que leve eficazmente a bom termo todo o vosso zelo pelo bem e a atividade de vossa fé.” (2Ts 1,11)

No encerramento do ciclo de lives dedicado às vocações, o Segue-me Brasil conversou com a assessora Nacional da Comissão Episcopal da Pastoral da Juventude da CNBB, Irmã Valéria Leal. Muito mais do que falar da Vocação Religiosa, ela partilhou experiências e desafios proporcionados pela vida consagrada desde os 14 anos de idade, quando adentrou à congregação das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus até a função de nível nacional que desempenha atualmente.

“Já fui diretora de colégio, acredite se quiser! Era um colégio grande com mil alunos, no início foi um baque. ‘Meu deus! Como é que as pessoas vão respeitar esse baby?’, eu era muito novinha”, conta a Irmã ao relatar os desafios que já enfrentou na caminhada religiosa.

Da saída do interior paranaense até as aventuras em missão na região do ‘Beiradão’ na região Norte do país, onde aprendeu com a comunidade a dormir corretamente em uma rede, é nítida nas falas da Irmã Valéria, a entrega necessária dos vocacionados e, acima de tudo, a responsabilidade. “A vocação é dom de Deus. Ela é sempre serviço, não é só vestir um hábito, assumir uma missão x ou y, mas é de fato estar no coração de Deus”.

Uma caminha dessa maneira, tão entregue aos propósitos do Senhor, desperta receios na juventude. Ao mesmo tempo em que a Igreja sempre necessita da aceitação do chamado aos vocacionados, os jovens não se entregam com facilidade. Para esse impasse, a receita, segundo Irmã Valéria, é simples: basta analisar a situação por outro ângulo. “O jovem foca muito naquilo que se perde e esquece daquilo que se ganha. E o que se ganha é nada menos do que o Senhor. É importante ter essa dimensão, é sobre luta constante, é doação total a Ele, é estar com Ele. A gente precisa retomar essa dinâmica de entender a vocação como ser de Deus”.

Valéria Leal destacou ainda que acompanhadas ao receio, a modernidade e liberdade oferecidas tão facilmente pela conjuntura atual fazem com que os ideais da juventude entrem em conflito com o que prega a Igreja. Porém nem tudo precisa ser dualismo. Há espaço para opinião e participação, contudo é óbvio que os preceitos do catolicismo não podem ser simplesmente esquecidos.

“Existem elementos e valores essenciais fundamentos no Evangelho e na experiência acumulada da Igreja que, ou nós consumimos ou nós sumimos. Não dependem da opinião porque são verdades de Fé. Hoje a gente vive em um mundo em que todos acham que são donos da religião. Existe sim uma liberdade, mas existem elementos essenciais da nossa fé que constituem um patrimônio milenar de sabedoria da nossa Igreja que nós somos convidados a aderir”.

A relação do jovem com a Igreja não é feita apenas de conflitos. Tem uma galera prontinha para assumir a missão mas está perdida para dar o primeiro passo na caminhada. O jeito é orar, perder a vergonha e conversar com um padre, vocacionado religioso, Pastoral Vocacional, enfim, procurar alguém que dê segurança e encaminhamento. A dica de leitura dada pela Irmã Valéria para o discernimento está sempre ao nosso alcance: o Evangelho. Porém, segundo ela, “mais importante do que ler livros é acompanhar o jovem, ajuda-lo a construir um projeto de vida, a viver uma vida de oração e discernir quais são os apelos que Deus vai fazendo no dia a dia porque são esses apelos somados que vão ditando a vocação, aquilo que o coração entende”.

Ter Tios conosco é uma dádiva. Essa relação tão bonita entre os jovens seguidores com os casais não ficou de fora da conversa com a Irmã Valéria. Para ela, a presença dos adultos em um movimento juvenil como o Segue-me é essencial para que o exemplo seja dado e as raízes não seja perdidas. “O adulto não é uma pessoa perfeita, mas tem que ser uma pessoa em busca disso. Em busca do Senhor, da espiritualidade, da virtude, em busca da plenitude humana. É por isso que os jovens têm esse carinho, porque [os tios] não são perfeitos e não cobram perfeição, são companheiros de caminhada. Embora a juventude deva escrever sua própria história, ela precisa desse ombro amigo”.

Como recado aos seguidores e a toda a juventude cristã, Irmã Valéria seguiu a mensagem dos papas. João Paulo II, Bento XVI sempre disseram e Francisco ainda nos pede para que não tenhamos medo e é isso o que ela diz.

 “Aceitar o convite do Senhor sem medo é o melhor que o jovem pode fazer. Porque ter ele mesmo como recompensa, não tem nesse mundo que supere. Hoje o mundo nos fala tanto para que a gente fique sempre lindo e jovem, sempre nós no centro. Mas o caminho do Senhor é aquele de cruz que nos assusta um pouco, mas é um caminho que nos traz uma realização plena e é o que dá sentido à nossa vida. Com Jesus nossa vida sempre tem sentido e por Ele vale a pena morrer, se necessário”.

Assim é a caminhada de um vocacionado religioso, uma constante entrega a Deus. O desprendimento do eu para doação total a Ele. O desfazimento quase que pleno do indivíduo para o cumprimento dos planos de Deus. É entrega, responsabilidade e Fé.

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Michael Franco

Arquidiocese de Campo Grande – MS