Hoje, dia 30 de maio de 2021, celebra-se a Solenidade da Santíssima Trindade. É uma data bastante especial para o Catolicismo onde comemoramos um dos mais sublimes dogmas da fé, então, aproveitemos para conhecer um pouco melhor este mistério!

Mas, para falarmos sobre a Santíssima Trindade, é preciso entendermos em como é formada. Santo Agostinho define [1]: 

“o Pai, o Filho e o Espírito Santo perfazem uma unidade divina pela inseparável igualdade de uma única e mesma substância. Não são, portanto, três deuses, mas um só Deus, embora o Pai tenha gerado o Filho, e assim, o Filho não é o que é o Pai. O Pai não é o que o Filho é. E o Espírito Santo não é o Pai nem o Filho”.

A Trindade é “o mistério central da fé e da vida cristã” [2] e está presente desde a iniciação cristã no sacramento do Batismo, que é celebrado em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo. Esse mistério possui muita importância, pois “é a fonte de todos os outros mistérios” [3].

Para algumas pessoas, pode parecer um pouco absurdo a ideia que três pessoas possam ser uma só, mas espero que, ao longo do texto, isso fique um pouco mais fácil de ser compreendido. Entretanto, devemos fazer isso cientes que a Trindade não é possível de ser totalmente entendida somente pelo uso da razão, Santo Tomás de Aquino [4] já alertava: “É impossível chegar, pela razão natural, ao conhecimento da Trindade das Pessoas divinas”.

Mas essa colocação de Santo Tomás gera uma dúvida: se não podemos conhecer a unidade entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, como então podemos saber que essa unidade realmente existe? A resposta é bastante simples! Temos uma fonte inquestionável que nos ensina sobre esse assunto: a Bíblia. Mas, ainda na Bíblia, a Trindade não é algo simples de ser percebida, até hoje muitos cristãos negam essa realidade, sendo necessário muito estudo até compreender essa Verdade. 

Para entender o dogma da Santíssima Trindade, precisamos entender três pontos básicos: 1) existe somente um único Deus; 2) tanto o Pai, quanto o Filho e o Espírito Santo são igualmente Deus; e 3) a pessoa do Pai é diferente da pessoa do Filho, que por sua vez também é diferente da pessoa do Espírito Santo.

A primeira afirmação, acredito que nenhum cristão questione sua veracidade por existir dezenas e dezenas de passagens bíblicas que reforçam esse ponto. Para citar e esclarecer qualquer potencial dúvida que venha a surgir, deixo aqui a fala de São Paulo aos Coríntios (1 Cor 8:4) [5]: 

“Por conseguinte, a respeito do consumo das carnes imoladas aos ídolos, sabemos que o ídolo nada é no mundo e que não há outro Deus a não ser o Deus único”.

O segundo ponto exige um pouco mais de atenção! Então, iremos por partes. A primeira pessoa da Trindade, o Pai, deixa claro, em diversas passagens, que Ele é Deus: 

“Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, e que está acima de todos, por meio de todos e em todos ” (Ef 4:5-6). 

A segunda pessoa, o Filho [6]: 

“No princípio, era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus (…) E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e nós vimos a sua glória, glória que ele tem junto ao Pai como filho único (1 Jo 1:1-14) [7]. 

E a terceira pessoa, o Espírito Santo [8] é também descrito como Deus:

“Disse-lhe então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração para mentires ao Espirito Santo, retendo parte do preço do terreno? Porventura, mantendo-o não permaneceria teu e, vendido, não disporias do dinheiro à vontade? Por que, pois, concebeste em teu coração este projeto? Não foi a homens que mentiste, mas a Deus” (At 5:3-4). 

O último ponto deste dogma é a distinção das três pessoas da Trindade. Sabemos que o Pai é diferente do Filho, isso fica claro quando São Paulo diz:

“Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo o Pai das misericórdias e Deus de toda Consolação” (2 Cor 1:3). 

Também sabemos que Jesus é diferente do Espírito Santo quando o próprio Jesus diz: 

“Essas coisas vos disse estando entre vos. Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que vos disse” (Jo 14: 25-26).

Esta breve explicação [9] tem a intenção de apenas apresentar o dogma da Trindade, e reforço também que a Trindade é um mistério de Deus que não pode ser entendido na sua plenitude pela razão humana. Nossa razão é limitada de modo que não podemos conhecê-lo totalmente, entretanto, o pouco que conhecemos já é digno de todo o amor e credibilidade que somos capazes de ter, mesmo que não vejamos a totalidade de Deus, pois, “felizes os que não viram e creram! ” (Jo 20:29).

 

Wallyson F. Lira

Paróquia Nossa Senhora das Dores

Diocese de Crato – CE

 

 

Notas:

[1] Santo Agostinho em A Trindade. Capítulo IV, Doutrina da fé católica sobre a Trindade.

[2] Compêndio do Catecismo da Igreja Católica Capítulo Primeiro, Questão 44.

[3] Idem., Questão 45.

[4] Santo Tomás de Aquino em Suma Teológica. Livro 1, Parte 1 Sobre a Doutrina Sagrada, Questão 32 Art. I.

[5] Todas as passagens bíblicas citadas são transcrições literais da tradução A Bíblia de Jerusalém. Editora Paulus. 14ª edição.

[6] Ário foi o fundador de uma corrente teológica que ficou conhecida como arianismo, que pregava a humanidade de Jesus Cristo e ignorava sua Divindade. Essa corrente foi considerada herética durante o Concílio de Nicéia no ano de 325. Texto sobre a história dos concílios disponível em: https://www.a12.com/redacaoa12/igreja/historia-dos-concilios-gerais-da-igreja

[7] Nessa citação, parte do texto do Evangelho de João é omitida para não alongar muito a passagem com assuntos que não são tratados neste texto. Desse modo, é escrito o versículo 1 e em sequência o 14, entretanto, foi tomado cuidado para não modificar em nada o sentido original do texto. 

 [8] No ano de 381, foi convocado o 1º Concílio de Constantinopla, onde foram discutidos mais algumas questões sobre o arianismo e foi estabelecido o dogma da igual divindade do Pai, do Filho e do Espirito Santo.  Texto sobre a história dos concílios disponível em: https://www.a12.com/redacaoa12/igreja/historia-dos-concilios-gerais-da-igreja

[9] Essa explicação foi feita com base no texto 12 Things to Know and Share About the Holy Trinity do apologista Jimmy Akin. Texto publicado em: https://www.ncregister.com/blog/12-things-to-know-and-share-about-the-holy-trinity