“Este ano pandêmico nos ensinou que temos que parar, não dá mais para viver uma vida superficial no consumo. Temos que escutar os sinais de Deus em nossas vidas”

Natal é nascimento. Advento é espera. O significado de espera mudou em um ano pandêmico. Nunca esperamos tanto por tanta coisa. Nas palavras de Dom Nelson (2019): “Advento significa ‘vinda’, ‘chegada’. Está relacionado à chegada de Deus ao mundo. Tempo determinado para a preparação da festa do nascimento de Jesus. Ao mesmo tempo, esta ‘espera’ recebe os traços litúrgicos e de comportamentos próprios de uma ‘vigilância’, a partir do impacto da expectativa das comunidades juvenis (venha o teu reino) relacionada à nova vinda de Cristo, à chegada do ‘novo Céu e a nova terra’, marcados pela justiça e solidariedade.”

O Natal de 2020 será marcado pelo distanciamento imposto pela COVID-19. A espera do nascimento de cristo se une à espera de uma cura, seja para doença, seja para alma que ficou mais distante do verdadeiro sentido do Natal.

Para o cristão, o Natal não é apenas uma data, é um período. Um período cheio de significados litúrgicos de reflexão, preparação e espera. Esse período foi transformado em números, em expectativas de vendas. Não queremos deixar de lado a importância das vendas e receitas geradas, mas queremos sim jogar luz em uma pergunta que deve ser central para nós neste período: neste Natal optaremos pela espera ou pelo consumismo?

Na visão de Harari (2020) o consumismo é uma ética de produção que prosperou. Todos somos estimulados a ir às compras, como nosso passatempo favorito. O jovem está triste pois terminou um relacionamento? É só pegar o cartão de crédito e ir ao shopping que o sentimento ruim passa. Parece simples, mas não é. Nossa sociedade se tornou imediatista e não gostamos da espera. Tudo é para hoje ou para ontem. Não esperamos que o tempo de Deus aja sobre nós. Queremos ser donos do nosso próprio destino.

O filósofo francês Luc Ferry (2020) faz uma crítica sobre nosso desenvolvimento sem um sentido humanitário ou para tornarmos o mundo melhor, mais livre ou igual. O desenvolvimento ocorre por mera sobrevivência. Empresas têm que vender, consumidores têm que consumir, independendo de questões sociais e que diz respeito a todos, por exemplo, o meio ambiente. O mundo está cada vez mais mercantil e mercantilizando nossas relações, fazendo-nos esquecer da nossa principal vocação: o amor.

A Professora Hilda Couto Monte (2017) faz um alerta sobre a interferência do consumo nas relações parterno-filiais contemporâneas. Em seu trabalho, ela conclui que o tempo de contato entre crianças e pais têm diminuído com a evolução do consumismo. Se antes a felicidade estava no maior contato físico e experiências juntos, hoje a felicidade se encontra no consumo. Restou claro em seu trabalho, os distúrbios psicológicos extraídos de uma relação materialista desenfreada, e, agride os direitos fundamentais da família, na proporção que se revela como obstáculo ao exercício do Poder Familiar.

Após ler estes três autores, fica claro que o consumismo é uma deturpação do verdadeiro sentido do Advento. Nosso planeta, presente de Deus a nós, está cada vez mais desgastado, as relações familiares e interpessoais cada vez mais vazias. O importante deixou de ser a celebração da vida e passou a ser a celebração do consumo. Não podemos, enquanto cristãos, deixar que o consumo tome conta de nós.

Por fim, meus irmãos, que 2020 nos traga um Natal em Cristo. Este ano pandêmico nos ensinou que temos que parar, não dá mais para viver uma vida superficial no consumo. Temos que escutar os sinais de Deus em nossas vidas. Que possamos refletir. Seja em nosso templo individual ou em comunidade. Que saibamos esperar e celebrar liturgicamente o Natal como uma festa de renovação e esperança em tempos melhores. É tempo de espera, Cristo está vindo! Seu coração está preparado para recebe-lo?

 

Raul Messias Lessa
Paróquia de Santa Catarina Labouré
Arquidiocese de Maceió/AL

 

REFERÊNCIAS:

DOM NELSON. Advento e Natal: tempos de profecia diante da tirania do consumo. Disponível em: https://jovensconectados.org.br/advento-e-natal-tempos-de-profecia-diante-da-tirania-do-consumo.html. Acessado em 19 de dezembro de 2020.

FERRY, L. A mais bela história da filosofia. 3º ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 2020.

HARARI, Y. N. Sapiens: uma breve história da humanidade. 50º ed. Porto Alegre: L&PM. 2020.

MONTE, H. M. C. A interferência do consumismo nas relações paterno-filiais contemporâneas. Rio de Janeiro: Lumem Juris. 2017.